domingo, 28 de outubro de 2007

NOTAS

Barulho na casa de Deus
Em Salvador a população se sente incomodada com o barulho causado pelas igrejas durante com seus cultos, louvores e gritaria ate muito tarde da noite. Segundo a OMS - Organização Mundial da Saúde, o limite tolerável ao ouvido humano é de 65 dB, que corresponde a quatro pessoas conversando animadamente. Já com ruídos acima de 85 dB, dependendo do tempo de exposição e o nível do barulho. Poucas igrejas se preocupam com o assunto, fazendo seus cultos ate uma determinada hora, e revestindo as paredes do local para que o som não se espalhe para os moradores, que tem o direito ao silêncio.

Feira da Saúde( AIDS/DSTs, Drogas, Gravidez na adolescencia: o que tenho haver com isso?)
O Colégio Raimundo Gouveia, localizado no bairro de Castelo Branco, faz uma feira de conscientização para os jovens no próximo dia 10. A feira vai tratar de assuntos que estão em alta entre os jovens, e trazer mais informações sobre os assuntos abordados: AIDS/DSTS, Drogas e Gravidez precoce.

Imprudências na sinaleira
Um grande problema está tirando o sossego dos moradores da primeira etapa do bairro de Castelo Branco. É a falta de respeito dos motoristas com a sinaleira que fica localizada na rua A, segundo ponto após a Nestlé. Muitos deles não respeitam o sinal fechado e fazem ultrapassagem do carro que está à sua frente ou então invadem o sinal mesmo ainda fechado, sem se preocupar ao menos com os pedestres que estão atravessando a rua. Até o momento nenhuma medida foi tomada pelos órgãos competentes e já que o número de acidentes têm se tornado freqüente, cresce ainda mais o medo dos moradores de atravessar a sinaleira mesmo ainda que o sinal esteja fechado.

A mania do pastel
Quem chega à rua B, ou melhor, dizendo, à Rua da Ferinha da Primeira Etapa do bairro de Castelo Branco não pode ficar sem saborear os pastéis que são vendidos a partir das 18h todos os dias da semana. Os pastéis são fritos na hora e a variedade dos sabores é grande. É pastel de carne de sol com aipim, misto, de pizza, de goiaba,de queijo, calabresa, moda da casa, enfim são muitos os sabores.O cliente pode utilizar o cardápio para escolher o qual quer experimentar e ainda participar da promoção que, com mais alguns centavos leva um copo de refrigerante. A venda dos pastéis consegue atrair gente de todas as idades e já se tornou mania no bairro.



Telefones Úteis:
Centro cultural de Plataforma: (71)3386-4769E-mail: centrocultural@funceb.ba.gov.br ou centroculturalplataforma@yahoo.com.br
AMPLA (Associação dos Moradores de Plataforma) (71)3398-2883
Conheça:A travessia Plataforma –Ribeira. Reformada a pouco tempo a travessia dura poucos minutos, onde a meia tarifa custa R$ 0,50 e a inteira R$1,00. É uma experiência nova para quem estar acostumado a andar somente de ônibus e confortável porém para quem não gostar de navegação fica um aviso:



Baixa dos Sapateiros: uma história sem final feliz

Por Lucas Rocha

O que um dia foi considerado o centro comercial da cidade de Salvador, com um grande tráfego de ônibus e pessoas, e onde também circulava muito dinheiro, acabou transformando-se em um local quase abandonado. Aquelas ruas por onde corriam carros em mão dupla e com um trânsito intenso acabaram se reduzindo a uma avenida de mão única, onde agora passam menos veículos do que nos anos anteriores. A Baixa dos Sapateiros foi uma região de extrema importância histórica e econômica para Salvador, mas, hoje, os comerciantes que lá estão afirmam que o comércio da região não é mais o mesmo.
Tendo como ponto forte o comércio, a Baixa dos Sapateiros abriga muitas lojas e tendas de sapateiros. A atividade comercial chegou até lá por causa da expansão do comércio da Cidade Baixa. Lá, foi inaugurado o primeiro cinema da história da Bahia, porém não mais permanece em primeiro lugar quando o assunto é o comercio.
Segundo informações divulgadas no site do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), a diminuição do trânsito no local aconteceu por causa da construção da Estação da Lapa, na década de 80. Com essa mudança, os meios de transporte coletivos que circulavam pelo centro comercial da cidade, mudaram para a nova estação, deixando o antigo Terminal de ônibus da Barroquinha esquecida. A dona de casa Cleonice Medeiros, 59 anos, freqüenta a Baixa dos Sapateiros há 32 anos e afirma que o movimento caiu muito nas duas últimas décadas. “Antigamente isso aqui parecia um formigueiro, era gente indo, era gente vindo. Aqui tinha um trânsito muito grande de dinheiro, aquilo que era tempo bom para o povo daqui”. Cleonice, que tem uma paixão pelo bairro, onde o marido trabalhou em uma tenda de sapateiro, sente muita falta da época em que a região era muito movimentada.
Uma pesquisa realizada pelo SEBRAE com 100 pessoas no ano de 2005, revela que a maioria dos freqüentadores do bairro são moradores e trabalhadores, sendo uma pequena parcela de turistas e residentes de outros bairros de Salvador. Mulheres acima de 46 anos são as que mais freqüentam o local por causa dos serviços oferecidos. Dos entrevistados, apenas 22 possuíam veículos. O principal motivo pelo qual as pessoas freqüentam a região é o fato de estar localizado próximo às suas casas. Luciano Oliveira, 26 anos, vendedor da loja Casa da Cortina diz que a clientela da loja em que trabalha geralmente é do tipo C, D e E, nunca do tipo A ou B. Ele atribui isso a falta de segurança pública, afirmando que antigamente não havia muita opção para os soteropolitanos, mas agora, com a construção de vários shoppings, as pessoas começaram a freqüentar outras regiões. “Hoje, todo o bairro possui seu próprio mini-shopping”, comenta Luciano
Dentre os principais fatores que contribuíram para o declínio do comércio na Baixa dos Sapateiros, alguns estudiosos destacam três: a criação da Estação da Lapa, que acabou diminuindo drasticamente o tráfego que acontecia na região; o fato de os estacionamentos passarem a ser pagos, afastando muitos clientes que antes estacionavam com mais comodidade e sem que houvesse tarifas; e alguns apontam a desunião dos próprios comerciantes.
Há alguns anos, o bairro era considerado muito perigoso pelos moradores de outros bairros, principalmente para turistas. Porém, segundo o dono e gerente da loja Casa do Sapateiro, Gerson Luís Souza, 46 anos, o problema da segurança pública na região da Baixa dos Sapateiros já está mais estabilizado: “Hoje em dia o problema da segurança pública já está estável, antigamente isso aqui era muito pior”. Gerson trabalha na região há 31 anos, e desde que começou trabalha com cinco empregados. Apesar das dificuldades enfrentadas, Gerson garantiu que ainda consegue manter os cinco. Ele atribui a culpa do abandono da região à própria modernização, pois este conjunto de fatores (a construção da estação da Lapa, o fato de o estacionamento passar a ser pago...) infelizmente culminaram na piora da região.
A falta de estacionamento gratuito também foi um dos fatores que contribuíram no afastamento das pessoas do bairro. O vendedor Oliveira se queixa bastante da falta de segurança pública e da ausência de estacionamento gratuito para os fregueses. Ele trabalha na região há oito anos e mora há cinco e diz que nesse meio tempo já percebeu a decadência do comércio. “Não vou dizer que a vendagem do ano de 2006 para o de 2007 teve grande mudança, mas a gente sente uma diferença. E como todos sabemos, aos poucos a decadência vai se mostrando, todo ano diminui um pouquinho, e esse pouquinho acaba preocupando”.

Um pouco de história

A Baixa dos Sapateiros era chamada de Rua da Vala, e compreende as regiões do Largo do Aquidabã e da Barroquinha. Antes disso, a região conhecida como Baixa do Sapateiro ia da baixa da Ladeira do Taboão (ladeira que liga o comércio à Baixa dos Sapateiros, onde trabalham alguns sapateiros e costureiras) à Rua da Vala. De acordo com o livro “Histórias de Salvador nos nomes das suas ruas”, de Luiz Eduardo Dorea, a Baixa dos Sapateiros tem como nome oficial Rua J. J. Seabra, uma homenagem feita ao governador do estado.
“A Baixa dos Sapateiros ganhou seu nome pela topografia de sua localização e pelo agrupamento profissional que nela começava a se instalar durante o século XIX”, divulga o site do SEBRAE. Nessa região havia diversas casas de couro, que eram muito freqüentadas por sapateiros. Esses mesmo sapateiros, ali iam comprar produtos para fazer a confecção e o conserto dos calçados. Havia também muita “tenda” de sapateiros, por causa desses fatores que veio o nome Baixa dos Sapateiros, que começou a decair, com relação ao comércio e à segurança pública, a partir das décadas de 80 e 90.
Foi na Baixa dos Sapateiros onde foi inaugurado o primeiro cinema de Salvador, em 1910, o Cine-Teatro Jandaia, conhecido também como “Palácio das Maravilhas”. Cinco anos depois, a Baixa dos Sapateiros ganhou outro cinema: O Olympia. “Nos anos 20 e 30, as classes média e alta desfilavam na Baixa dos Sapateiros, freqüentando as famosas matinês do Cinema Olympia ou as esporádicas apresentações teatrais no Cine-Teatro Jandaia, um dos prédios mais elegantes do Centro Histórico”, divulga o site do SEBRAE.





Shopping Liberdade: suas belezas e contradições




por Priscila Bastos



O Shopping Liberdade atrai pela sua estrutura arquitetônica. Não há como passar de ônibus ou a pé e não sentir vontade de entrar. A arquitetura chamativa, uma fachada com o nome do shopping, as plantas, as entradas: pela esquerda, direita e pelo meio, são atributos que despertam curiosidade de todos que por ali passam. Embora seja tão atraente aos olhos de todos, a situação não tem sido muito favorável. Segundo declarações de comerciantes, um dos motivos é que o retorno não tem sido o esperado, há uma baixa freqüência.
O estabelecimento possui três andares e 120 lojas, das quais 67 estão em funcionamento e 53 fechadas. Os estabelecimentos mais procurados são as lojas de telefonia, loteria, farmácia e restaurante. Com uma construção bem elaborada, deveria estar em melhores condições, certamente é o que passa pela mente das pessoas que não conhecem o shopping ao saberem que um número significativo de lojas estão fechadas.
O shopping Liberdade atravessa momentos de mudança: lojas fechadas, outras investindo em um negócio antigo e outras que chegam para arriscar. Como é o caso da loja Claro, que está no local há quase três meses. Danieli Telles Coelho, 18, e Ivo Adorno da Silva, 23 , vendedores da loja, muito simpáticos, estão descontentes com o negócio. “O shopping tem pouco movimento, pouco marketing”, declarou Danieli. Desanimada com o rumo das vendas, Danieli diz que não acredita na mudança do shopping e, sim, dos capacitados.
O gerente comercial, formado em administração, José Luiz Werneck Maria, que está no cargo há três anos, fala de maneira muito sincera, fazendo revelações inimagináveis para meros freqüentadores, que na correria não param para questionar a atual situação do estabelecimento. Apesar de não estar na administração na época da implantação, Werneck afirma com certeza que o retorno não é o esperado. Para ele, houve um erro na implantação: “Muitas lojas estão fechando porque não foi definida a classe a ser atendida”.
Werneck deixa claro outra problemática para o insucesso do shopping: “O shopping de bairro é administrado por várias cabeças”. Assim como o gerente, a comerciante Ana Oliveira, 40, que possui duas propriedades no estabelecimento, atribui o insucesso do shopping ao fato da administração ter muitos operadores, muitas opiniões. Esta dificuldade ressaltada por ambos também pôde ser percebida quando o Shopping Liberdade ganhou o Top of Mind 2005, prêmio de melhor shopping de bairro. Com indignação, o gerente conta que os próprios administradores duvidaram do prêmio e que eles foram acusados de comprar o prêmio.


Público
Os freqüentadores do shopping também arriscam palpites sobre o shopping Liberdade, é o caso de Paloma Alves, 19, estudante de psicologia. Ela, que freqüenta os boxes de xerox, as lojas de telefonias, lanchonetes, fala que “o shopping tem uma arquitetura boa, quem passa tem vontade de entrar, mas as lojas fechadas e a imagem já instalada que vende caro faz com que as pessoas não freqüentem”. Paloma aposta na melhoria do shopping, para ela é preciso colocar lojas que atraiam mais. Com bom humor, ela brinca: “Queria que o shopping tivesse uma loja Canal Jeans, Americanas e C&A”.
Muito interessante foi encontrar um casal de São Luís do Maranhão apreciando a vista da Baía de Todos os Santos. Otávio Lousado, 31, gerente da Insinuante de São Luis e sua esposa Elaina Lousado, 22, atualmente dona de casa, estavam visitando familiares nas proximidades do shopping e resolveram conferir a vista para a Bahia de Todos os Santos, que por sinal os encantou. “Muito bonito, uma imensidão”, afirmou Elaina.
Segundo o gerente comercial do shopping, o estabelecimento não foi criado por causa da vista, o local era um campo de futebol, depois supermercado e por oportunidade foi colocado o shopping. Mas existe o plano de fazer da vista, um turismo cultural, ou seja, fazer parte do circuito cultural já existente na Liberdade, mas isto ainda não foi definido.

Comerciantes de sucesso
Apesar dos conflitos que o shopping vem passando, “pouco movimento”, queixa dos comerciantes e “preço nada acessível”, na opinião dos moradores, há exemplos que se salvam diante de tanta contradição. Como a baiana do acarajé Josenice Brotas, 36, que trabalha no local desde que o shopping foi inaugurado. Ela já é consagrada por ser a única baiana a trabalhar em frente ao shopping e por fazer acarajés e abará muito gostosos! Vale a pena ir ao shopping a partir das 17h, horário em que a baiana chega, para conferir. O interessante é que Josenice trabalha na área externa do shopping. Quando perguntada porque não colocou um stand na parte interna, ela afirma que foi escolha, assim tem clientes dentro e fora do shopping.
Silvana Soares, 37, uma vendedora alto-astral, também tem conseguido driblar os problemas que o shopping vem enfrentando. Silvana que está no shopping há quase três anos, tem um boxe logo na entrada do shopping, pelo lado esquerdo, onde vende doces. “Acho o comércio fraco, pra comida é fraco, mas a gente consegue se virar”, afirma e emenda: “Como em todo shopping, o fluxo era maior no começo, agora reduziu, mas já consegui fazer meus clientes. Se saísse, faria falta”.
Muito interessante é a comerciante Ana Oliveira, 40, popularmente conhecida como Xuxa. Ela tem dois boxes no shopping, um no primeiro andar, há quatro anos, e outro no térreo, há três meses, ambos de alimentos. Seus boxes possuem destaque pela variedade: bombons, salgados, doces, café, suco, de tudo tem um pouco. “O meu comércio tem sido bom, mas o shopping é fraco”, conta Ana. Ela tem sido um dos poucos comerciantes a emplacar no shopping, talvez o seu apelido esteja ajudando no sucesso.

Eventos
O shopping, a depender das datas comemorativas, oferece vários eventos, por exemplo nas estações do ano:na primavera costuma-se colocar floricultura. Há também desfiles, que consistem em exibir os produtos das diferentes lojas. Alguns eventos já estão definidos, como: música ao vivo todas as sextas-feiras durante duas horas e aulas de dança de salão todas as segundas, quartas e sábados, das 17h às 20h na praça de alimentação. A divulgação destes eventos é feita através do rádio, carros de som e através do jornal A tarde. Sobre tais eventos Werneck fala com saudades do Projeto “Painel da Liberdade”, que consistia em dá oportunidade a novos talentos, mas não foi a frente por problemas na administração.


Constrangimento
A partir das 21h, já é possível observar em frente ao shopping pessoas se acomodando para passar a noite. Quem passa às 6h da manhã se assusta com uma fila grande, onde pessoas em pé aguardam senhas do SAC para retirar identidade gratuita e resolver outros problemas. Não há senhas para todos e é possível identificar o descontentamento das pessoas. É possível ouvir: “Devia ter ido no shopping Iguatemi”.
Ana Cristina, 31, que esperava para ser atendida, colava apressada com vários pedaços de durex a certidão de nascimento original do pai, resmungando muito. Ela acha que não vai conseguir novamente resolver o seu problema. Mora na Fazenda Grande e não freqüenta o shopping Liberdade. “É a segunda vez que fico nesta fila”, fala de maneira desolada.
A população de baixa renda se vê diante de um belo shopping onde de nada usufruem, apenas passam pelo constrangimento de encarar uma fila imensa para muitas vezes não conseguirem senha. Os funcionários do SAC tentam uma organização, mas bem se vê que a manhã será longa diante de tanta burocracia: senhas limite para tirar a carteira de identidade, além de outras pessoas que estão ansiosas para resolverem outros problemas.
Tal situação me remonta a citação de Werneck: “Não foi definida a classe a ser atendida”. Talvez a principal encruzilhada do shopping seja o fato de querer lidar com o público criado e não o real, não a população batalhadora da Liberdade.
O shopping conta com projetos futuros como a capitação de novas lojas e equacionar público-loja, loja-público.

(outubro de 2007)

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terça-feira, 16 de outubro de 2007

Perfis

Edgar fareja

Rachel Koerich

No colégio Mendel Villas não há espaço para pilantragens. Apelidado carinhosamente de cachorrão, o inspetor Edgard Figueiredo Filho, 65 anos, um homem baixo, carrancudo, de cabelos brancos e possuidor de um bigode que faria inveja a Hitler, numa batalha diária, sob a desculpa de “estar mantendo a ordem”, se dedica à perseguição de jovens delinqüentes no colégio Mendel, situado em Villas do Atlântico (Lauro de Freitas).
Nascido em Vitória (ES), cachorrão foi criado numa casa repleta de mulheres, apenas. Seu pai, militar de alto escalão, conhecido por todos ou como “uma rocha” ou como “mulherengo”, havia falecido, durante a sua gestação, de tuberculose. Para a “Dona Cidinha”, de quem Edgar fala com enorme respeito e lágrimas nos olhos, ficou a nobre tarefa de criar os três filhos, ele e suas duas irmãs mais velhas.
A presença feminina não serviu para amaciá-lo: “Um cara como eu, que vivia rodeado de mulheres, tinha que se policiar um pouco, ninguém ia me chamar de maricas!”.
Durante a sua juventude, em que esteve em um colégio militar, o caçula sempre seguiu uma postura muito firme diante de seus colegas, alguns diriam que até “firme demais”. Sempre membro de uma gangue, Edgar e seus colegas, carrancudos como ele, aterrorizavam os magricelas e frágeis; por ora lhes propiciando humilhações públicas que envolviam cascudos, ou levantamento de cuecas e por outras, enfiando o dedo nariz e colocando em cima dos maiores bifes do almoço.
No setor amoroso, nunca teve muito sucesso. Nos vestiários femininos, em narrativas coléricas, se referiam a ele como “brutamontes”, “vilão” e até, nos casos mais drásticos, como “assassino”.
Um dia Edgar se viu apaixonado e, se arrepende: “uma única vez, pra nunca mais!”. O bruto Edgar de um dia pro outro passou a usar colônia, gel nos cabelos, sapatos bem encerados e esporadicamente colhia flores no jardim do internato que acompanhadas por um cartão, com dizeres primitivos e brutos como ele, tinham a intenção de impressionar a sua amada. Queria conquistar a bela Darcy (mais lágrimas nos olhos), uma menina morena, alta, esbelta, bochechas coradas, conhecida por todos pela sua bondade e pelo constante apoio aos fracos e oprimidos.
Sua Primeira Derrota; Darcy o repudiava e, no mais, estava apaixonada por um jovem poeta, tímido e magricela. O dedo no nariz não resolveria a disputa desta vez.
Edgar tentou seguir a carreira militar, mas não obteve muito sucesso, sempre esteve em uma posição desprivilegiada e ainda por cima era mal remunerado: “dava pra sobreviver”. Acabou se casando com Dona Paula, com que teve um casal de filhos e vive até hoje “não era a Darcyzinha, mas dava pro gasto”.
Hoje, aposentado, trabalha como fiscal no colégio Mendel. Andando de um lado pro outro, como numa marcha militar, carregando, sem exageros, um chicote (apenas terrorismo) “serve pra colocar aqueles desordeiros, vândalos, meliantes na linha!”, Edgar procura se redimir de todas as suas injustiças do passado, protegendo firmemente os desfavorecidos e vítimas de agressões, dando aos “trombadinhas” o tratamento que merecem.


Uma história de luta e perserverança

Aricelma Araújo

Dizem sempre, que toda mãe quer o melhor para seu filho. Que todas elas, cuidam, protege, zela, dar carinho, conselhos, abraços, chora, dar risada, se emociona com eles, enfim cumpre seu papel.
Dona Ivete, 62 anos, morena clara, cabelos pretos, de estatura média, moradora de uma cidadezinha do interior da Bahia, chamada Varzedo, de aproximadamente oito mil habitantes, não é diferente. Está sempre cumprindo a missão que deus lhe deu: Cuidando sempre dos seus nove filhos. É uma mãe exemplar, que qualquer filho gostaria de tê-la. Está sempre com seu manto cobrindo todos que à cerca, protegendo, aconselhando, apoiando, incentivando em suas decisões. Nunca está cansada para nada, atende, escuta os anseios, os desejos, as frustrações dos filhos. Para ela todos são iguais, nenhum deles é diferente, como diz sempre: “Amo todos do mesmo jeito. São todos ainda, as minhas crianças”. Repete sempre estas palavras quando seus três filhos que mora em Salvador ligam ou quando os que estão do seu lado fica carente.
Em Varzedo todos a conhecem devido sua história de vida. História de sonhos luta perseverança, determinação e conquistas. Quase toda a população a conhece, e quem ainda não, concerteza já ouviu falar o seu nome pela cidade.
Perdeu seus pais ainda quando criança, mas mesmo assim não deixou que a vida lhe desse um destino triste. Buscou no trabalho forças para continuar vivendo, para esquecer a dor da perda de seus heróis, como sempre diz a seus filhos hoje. Viu que através do trabalho, a vida poderia ter novamente sentido. Daí então, aos 17 anos conheceu um homem com quem casou-se e que lhe fez ver a vida de forma diferente. Seu casamento com Adiel Moura, está a completar 45 anos no corrente ano. A união entre o casal não podia ser diferente, sempre cheia de muito amor, isso perpetuou até hoje e acredita ela, este sentimento seguirá até os seus últimos dias de vida.
Sonhadora, batalhadora, não desiste nunca de seus sonhos, corre sempre atrás do que quer. Busca sempre solução para seus problemas, mesmo onde acha não ter. Sempre idealizando algo, faz com que todos os filhos sonhem com ela. Sempre pregando. “Não há vitória sem luta”, conseguiu fazer de seus filhos pessoas determinadas, que buscam com garra o que quer.
É de fato uma pessoa especial, que conseguiu dar a seus filhos o que a vida não lhe deu. Sempre buscando dar carinho, amor, atenção, incentivo, conselhos a todos, lhe fez ser para eles um exemplo de ser humano. Reconhece ela, ser uma mãe que está sempre buscando o melhor para seus filhos. Quem já teve o prazer de lhe conhecer, reconhece isso e faz questão de mencionar. O que a deixa mais triste é a saudade que sente dos filhos que moram distante, as desigualdades sociais e a falta de paz no mundo.
Nas horas de tristezas, procura fazer as coisas que mais ama. Cuida das plantas, ouve músicas, visita os amigos e vizinhos e vai para cozinha fazer os pratos prediletos para aqueles que já estão à chegar do trabalho.
O que lhe stressa de verdade, é quando alguém mexe com seus filhos. Ela fica realmente uma fera, perde completamente a noção das coisas e quer logo resolver o problema de seu jeito.
Todos dizem na cidade: “Ivete, defende os filhos, com unhas e dentes. Uma mãe como essa é difícil achar”. Todos ali, reconhecem que ela faz o que pode por todos eles.
Um pouco teimosa, como ela mesma reconhece, está sempre às escondidas, comendo as coisas que não pode, devido o problema de hipertensão que sofre. Não leva muito a sério as reclamações dos filhos. Sempre deixando-os preocupados. “Eu sei me cuidar gente. Na hora que eu quiser eu tomo o remédio. Deixem de agonia comigo”. E assim vai levando a vida.
Debaixo de troncos e barrancos, não se deixa abater por nada, é de fato uma guerreira. Uma heroína. É alguém que possui uma história que de fato caberia dentro de um livro e emocionaria todos que a lessem. Enfim, quem a conhece sabe muito bem, não existem palavras suficientes para definir o grande ser humano que é.




Duas Caras

Priscila Bastos


Uma menina muito bonita, Paloma Bastos, estudante de Psicologia das Faculdades Jorge Amado, é muito meiga e sensível. Ela se estressa com as coisas e logo fica emburrada, mas o que por sinal é muito engraçado.
Atualmente ela tem ficado muito estressada com a faculdade, acha que estão sendo muitos trabalhos ao mesmo tempo, assim fica logo doente, ela mesma diz: “Eu somatiso tudo”.
“Não estou estudando muito, vai Priscila fazer a prova pra mim”, falava ela para sua irmã. Ela cobra muito de si mesma.
Quando foi fazer a sua prova teórica no DETRAN ela passou por um imenso constrangimento. Chegou um pouco apreensiva no local, pegou a sua senha e ficou aguardando, até que foi chamada.
Quando entrou na sala onde iria realizar a prova, entregou o seu CPF, identidade, renach, em fim, todos os documentos que favorecem a burocracia. Passou por este atendente, quando foi para o segundo colocar a sua assinatura em uma lista, logo começou o drama. O rapaz olhou para ela de cima a baixo e deu uma risadinha irônica, ela sem entender aguardou o que ele ia dizer, já estava ansiosa para sentar no computador e fazer logo a prova. Aí então o rapaz disse que ela não podia fazer a prova, já tinha feito no dia anterior, agora foi a vez de Paloma dá uma risadinha irônica para ele. Ela explicou que tem uma irmã gêmea e que esta tinha feito a prova no dia anterior.
Ele não acreditou de imediato, olhou novamente os documentos e não queria mesmo deixá-la fazer a prova, até que Paloma disse para ele conferir logo a digital, depois disso o rapaz se não acreditou foi obrigado a se conformar.
Finalmente ela pôde sentar e fazer a sua prova, não muito calmamente, pois o rapaz sempre dava uma olhadinha para ela e Paloma que estava nervosa a esta altura estava em crise.
Diante de tal situação, que não foi a primeira nem a última Paloma chegou a casa dando muita risada e contando o acontecido.
Apesar de ser risonha, também leva muito a sério o que as pessoas lhe dizem, é o tipo de pessoa que temos de ter o maior cuidado para não magoar.
Na fase em que se encontra, 3° semestre do curso dos seus sonhos, ela tem aplicado tudo o que aprende para a sua família, se alguém comenta sobre algum distúrbio, lá vem ela com mil explicações, tudo tem causa e tratamento.
Para quem tem a honra de conviver com esta menina se encanta com o seu jeito alegre, melancólico e dramático. Paloma audaciosa sabe muito bem como utilizar o seu melodrama a seu favor, com carinha de desamparada acaba convencendo a todos que o que ela quer é o melhor para o momento e acaba conseguindo.
Ela gosta muito de tirar fotos, na sua infância não muito, mas hoje se junta com a sua irmã e são muitos flashes.
Com o seu jeito dicotômico ela é o ser humano de carne e osso, não usa mascaras, chora e dar risada sem medo de ser feliz.



Salgados Lucrativos

Vanessa Moraes

Todos os dias Rose chega cedo a um cursinho localizado no centro da cidade de Salvador onde fica seu ponto de venda de salgados. Trabalhadora desde de cedo ela não reclama da vida que tem, vende salgados com suco ou refrigerante não só para os pré-universitários do cursinho, mas também para as pessoas que circulam pela cidade.
Conhecida como “ a tia do salgado”, Rose é uma mulher de 52 anos e com três filhos e com uma felicidade estampada no rosto,nunca pensava que poderia dá uma vida estável aos filhos, estava separada do marido e desempregada, porque largou o emprego para cuidar dos filhos quando menores e não mais conseguiu,teve que tirar seus filhos do colégio particular. Mas veio a idéia de vender salgados em um colégio,logo viu que não traria muito lucro.Depois de alguns anos quando seu filho mais velho estava perto de prestar vestibular, foi trabalhar na porta de alguns cursinhos da cidade,conheceu muita gente que parava para comprar seus lanches, era famosa dentro e fora dos cursos. Conseguiu um pouco de estabilidade financeira e assim dá uma vida digna aos filhos, uma das sua maiores alegrias foi colocar seu filho em uma faculdade de medicina que tanto queria e poder pagar com o dinheiro da venda dos lanches e algumas ajudas.



O homem do século 21

Jordan Mendes

Nascido na pequena cidade de Ibirataia, no interior da Bahia, casado a 25 anos e pai de dois filhos, Gidel sai de segunda a sexta de manhã bem cedo rumo ao destino que percorre a trinta anos.
Cabelos grisalhos, bigode imponente, durante a semana ele mantém a seriedade. A preocupação com o trabalho é constante. A dedicação intensa. Permanece na empresa durante todo o dia. Chega às 7hs e sai às 16hs. Quando retorna ao lar, toma um café e abre o laptop. É incrível como consegue assistir os noticiários e trabalhar simultaneamente. É literalmente o homem-modelo do século 21.
Sexta-feira à noite é o momento de relaxamento. O boteco da rua é o destino, onde ele conversa com os amigos sobre os mesmos assuntos e faz as mesmas brincadeiras. Sábado é o dia do “baba”. Na sacola vão todos os acessórios: chuteiras, caneleiras, short, camisa, meião. Sente-se um verdadeiro profissional. Depois do “baba” acontece a resenha entre os amigos, regada a cerveja. Já no domingo a preferência são os filmes e os jogos televisionados, essa segunda opção muito criticada pela patroa.
Quase aposentado, quando perguntado sobre o futuro diz que vai fazer uma faculdade, de matemática ou física, e que depois de formado vai lecionar. Sem dúvida, esse incansável homem de 53 anos, vai ter muita coisa pra ensinar.




Fazendo graça com a vida

Priscila Rodrigues

Cabelo bagunçado, olhos profundos, boca grande e carnuda de sorriso sempre presente, músculos bem definidos por causa da intensa malhação, alguns dizem que ela tem cara de maluca, mas ela faz de propósito. Seu hobby é animar! Por onde ela passa contagia. Adileide não é uma pessoa comum. Não só o seu nome não é comum e acho que é único, já que foi fruto de uma invenção de seu pai, mas ela toda é única, com toda sua alegria e loucura. São 45 anos que ela vive de uma maneira feliz, feliz até o extremo. Marido, dois filhos, uma de 24 e um de 20, dona de casa normal, se não fosse a seu bom humor.
Infância no interior da Bahia, cidadezinha do sertão de nome Euclides da Cunha. Sua família não era rica, nem um pouco, mas não passava necessidades. Seu pai tinha um bar e sua mãe uma barraquinha na feira. Ela própria na sua adolescência tinha a sua barraquinha de cocada na feira. Ajudar a mãe e seus 8 irmãos era rotina.
Hoje, sua vida não é nada especial e também é presa à rotina. Almoço, filhos, limpeza, TV, marido, roupa, janta, e academia. Academia é a palavra chave em sua vida e onde ela despeja toda a sua alegria. Ao chegar na Well, academia onde malha, ela já começa a contagiar os coleguinhas. Boa tarde animado, sustos, muitos gritos e perturbação durantes as aulas de ginástica são suas especialidades. Por conta disso muitos professores a admiram e pensam que ela é presença essencial durante suas aulas, já que anima e deixa o clima menos tenso e obrigatório, como é a atmosfera de uma academia.
Conhece todos e aqueles que entraram a pouco tempo têm que se acostumar com seu jeito despojado e intrometido de ser. Há ,é claro, aqueles que se sentem invadidos quando ela já chega perguntando como vai e qual seu motivo real para se entregar a malhação e também há a grande maioria, aqueles que se acostumaram ou gostam da presença chamativa e contagiante de Adileide.
A cara de maluca vem das caretas que ela faz. Caretas engraçadas e bem feias mas todas tem um elo de bom humor presente. Elas servem nos momentos de esforço, descontração e quando ela quer abusar os que não gostam dela.
“Sobe no jegue meu povo!!”, é uma de suas frases gritadas durante as aulas de Spinning (aula onde todo estão em cima de bicicletas ergométricas especialmente ajustadas para simulação de subidas em ladeiras e acelerações intensas) e os professores já adotaram sua frases e também o jeito descontraído de dar aulas.
Sua fama é tanta que em seu último aniversário os alunos, professores, funcionários e o próprio dono da academia se juntaram e fizeram camisas personalizadas e festa para ela na própria academia. Seu presente foi um mês grátis de malhação! Muito emocionada ela contava para todos da família o feito como se fosse uma das melhores coisas que aconteceu com ela. Para ela que tem uma vida cheia de dificuldades como outras tantas pessoas nesse mundo, não caberia falar a sua história de luta e sofrimento mas sim, a sua história de superação e alegria. Todos os dias ela supera os obstáculos da vida contagiando a todos com seu bom humor quase inabalável. Como qualquer um ela também vive momentos tristes, mas na academia eles simplesmente não existem!




Mais uma história de amor

Liz Silveira

Sentada na beira do mar, Sandra o esperava. Coitada, mal sabia que ele não iria ao seu encontro. As horas passavam e a jovem de 23 anos, se desmanchava em lágrimas. Pobre moça bonita dos olhos de mel, jamais sofrera assim. Na praia, mais parece uma sereia. Cabelos ao vento, sorriso assanhado, um jeito moleca e o andar engraçado.
Tribalista no seu jeito de ser, sempre esmagou corações, com exceção de um: O de um homem meio mal. Aquele que a fez chorar e perder a cabeça em cada instante ao seu lado. Sandra apaixonou-se perdidamente, fez e refez sonhos, desmanchou-se em alegria cada noite e cada dia. “Jamais perdi minha cabeça desta forma, que erro! Que burra que sou!” exclamou.
O homem mal era um belo e alto grisalho de 30 anos, médico e músico. Muito bonito e sensual, por acaso.
Sandra é uma gaúcha criada na Bahia, ela nasceu em 03 de dezembro de 1983. Sempre muito dedicada, formou-se em direito e mudou-se para Florianópolis para exercer a profissão de advogada. Talvez, numa tentativa desesperada de esquecer aquele que um dia tanto a fez chorar.
Quanta maldade, iludir um pobre coração amando outra pessoa. Quem este homem pensa que é? E de que adianta tanta beleza quanto à da jovem Sandra, se a paixão sentida pelo seu amado foi tão repentina e frágil a ponto de se acabar em apenas um mês?
“Não adianta me lamentar, bola pra frente”, pensou. Não era justo deixar tanto brilho se ofuscar, era muito talento e beleza para uma pessoa só, mas, nem tudo é perfeito. E o seu erro foi se entregar.
Um ano se passou, ela se acostumou com a nova vida e a rotina tomava todo o seu tempo, já não se ocupava tanto com motivos sentimentais. Estava tudo indo muito bem, nada como se tornar uma mulher bem sucedida num lugar lindo e evoluído. Tinha acabado de alugar um bom apartamento e o estava decorando, não saía muito além de alguns happy hours com os colegas de trabalho. Mas tudo bem, sua vida profissional era o que lhe interessava no momento. Até um dia...
De repente, em sua caixa de entrada do e-mail havia chegado uma mensagem pouco esperada e muito desejada. Era ele, o médico grisalho. Ele voltou a fazer contado! “E agora? O que faço? Respondo, guardo ou apago?” Desesperou-se a pensar.
Na mensagem dizia: “Olá moça bonita, como está? Tenho pensado muito em você, gostaria de lhe ver, posso ir ao seu encontro?” Nossa, seria muita cara de pau da parte dele?
Seguindo a regra de que as mulheres agem puramente com o coração, Sandra o respondeu e aceitou a visita. “Agi rápido, nestas horas é melhor não pensar”.
Enfim, o homem mal foi ao seu encontro. Envolveram-se em lindas noites de paixão e todas as estúpidas emoções da bela morena vieram à tona. O futuro é incerto, mas, “De que adianta tanta cautela se o que eu quero é ser feliz... Ao lado dele?” Pensou.A jovem advogada resolveu se entregar e desfrutar deste sentimento um tanto proibido pela razão, pois o futuro a Deus pertence.



O Anão Dunga

Ricardo Follador


Todos que chegam ao posto Esso, localizado no bairro de Jaguaribe, percebem a movimentação de um senhor de uns 70 anos correndo em direção aos carros para conseguir um trocado para tomar sua “cachaçinha do dia”. É o anão Dunga, morador à mais de vinte anos, e figura histórico do bairro, seu apelido ninguém sabe quem colocou, apenas que ele responde por esse codinome, conhecido pela sua baixa estatura, no máximo 1,40 m de altura, Aparenta uma idade mais avançada, mal vestido e com aspecto físico degradado, o anão Dunga vive de doações das pessoas do bairro . Sem casa própria, Dunga mora aos arredores do bairro, nas casas abandonas, em algum lugar onde possa estar próximo do posto. Vivendo de pequenos biscates, o anãozinho é conhecido de todos, alguns moradores da região o chamam para beber juntamente com eles, outros preferem apenas zombar com ele, o que não o deixa irritado, pois está sempre com os poucos dentes que tem para fora.
Acostumado com o emprego de “calibrador de pneus” do posto, emprego que ele se auto denominou, Dunga hoje vive um conflito, o equipamento que pertence ao posto, foi mudado, e o novo foi colocado em uma altura que o anão não alcança, causando problemas para ele, que tem dificuldades de alcançar, e já não agüenta mais o ritmo dos anos anteriores, já que já está numa idade avançada.
Apesar de todos essas dificuldades, Dunga parece estar contente com sua humilde vida, toma sua cachaça diariamente e bota o papa em dia das ocasiões que acontecem no bairro.



Isso é ridículo!!!!

Manoel Arthur


No primeiro contato pensei que fosse chata.Mas com o passar dos dias e com os trabalhos desenvolvidos para a faculdade pode perceber que minha opinião não passava de um preconceito.Assim com o passar do semestre pode perceber o quão era legal e prestativa minha colega Claudiana Silva.
Em nossas conversas corriqueiras sobre o curso e sobre nosso dia-a-dia essa técnica de enfermagem me mostrou ser uma guerreira.Trabalha á noite dando plantão no HGE(Hospital Geral do Estado), ás vezes vem direto do plantão para a faculdade.Queria ser médica mas poderia ser a Deusa do ébano do grupo Ilê Ayê por sua beleza. .Conversamos muito sobre nossa profissão, onde sempre eu falo: “porque você não faz enfermagem?”. Ela sempre me reponde que queria ser médica ao invés de enfermeira.
Sempre que faço um comentário ou coloco um apelido que ela não gosta, logo declara: “Isso é ridículo”.Sempre que estou reclamando da vida, me lembro do esforço que essa guerreira faz pra correr atrás dos seu objetivos.Claudiana ou Wanda ou Zileide é uma grande mulher e um grande exemplo de persistência e determinação.

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segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Entrevista com Alba Zaluar

Folha de São Paulo, 2004


Antropóloga, estuda há mais de 20 anos a violência urbana e é coordenadora do Núcleo de Pesquisa das Violências (Nupevi) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). A pesquisa dirigida por ela na Cidade de Deus, nos anos 80, deu origem ao seu livro "A Máquina e a Revolta". Paulo Lins, autor do livro "Cidade de Deus" foi integrante de sua equipe de pesquisadores.


Folha - A violência nas regiões metropolitanas brasileiras aumentaram muito nos últimos anos. Por que, apesar disso, a senhora diz que temos motivos para otimismo?
Alba Zaluar - Eu diria que temos motivos para otimismo porque não somos um país de guerreiros. Nunca nos envolvemos, por exemplo, em guerras mundiais. Nossos heróis são jogadores de futebol, sambistas e artistas. Somos um país que valoriza muito o espetáculo e que reconhece que o talento pode aparecer em qualquer classe social. Nos Estados Unidos, o [diretor Martin] Scorsese nos mostra [no filme "Gangues de Nova York"] que as vizinhanças se organizaram, desde o século 19, em gangues. No Brasil, as vizinhanças se organizaram em blocos de Carnaval e escolas de samba. Isso é uma baita diferença. Até hoje, os chefes do tráfico no Brasil ganham apelidos no diminutivo, como Fernandinho ou Escadinha. Nos Estados Unidos, os apelidos são de animais ferozes ou nomes de guerreiros africanos. Esse é um indicativo de que nosso etos guerreiro não é tão forte quanto o de lá. Isso mostra que é possível superá-lo com mais facilidade.


Folha - Então por que estamos tão violentos?
Zaluar - É preciso ter políticas públicas para superar isso. Houve no Brasil um fraquejo institucional do Estado. É preciso mudar nossa polícia e o Judiciário para que a impunidade diminua, especialmente nas classes mais privilegiadas. É preciso, por exemplo, achar uma maneira de valorizar o profissionalismo na polícia. Hoje, os governos acabam indicando os delegados e chefes de batalhão por critérios políticos. Os Estados têm que acabar com o bairrismo e trabalhar em conjunto.

Folha - Em que período a senhora identifica o início desse fraquejo do Estado?
Zaluar - No que diz respeito à polícia, isso é claro durante a ditadura militar [1964-1985]. Nesse período, tudo foi permitido à polícia. A imprensa estava amordaçada e ninguém podia denunciar abusos. A maneira de combater a corrupção é criar mecanismos internos de controle e não amordaçar ninguém. É preciso ter mecanismos por meio dos quais as pessoas atingidas pela violência policial possam fazer reclamações sem temer pela própria vida.

Folha - Pobreza e desigualdade não são também elementos fundamentais para explicar a violência?
Zaluar - A idéia do nosso projeto no Nupevi é ultrapassar a argumentação simplista do determinismo econômico que faz com que se pense que toda a questão da violência e da criminalidade possa ser explicada apenas pela pobreza e pela desigualdade. Trabalhamos com a idéia de um modelo de complexidade. Levamos em conta vários elementos que se arranjam de uma determinada forma que acabam provocando essa combustão. Estamos falando apenas que a pobreza, só, não explica o fenômeno. É bom lembrar que esse é um fenômeno que aparece na década de 70. Não é verdade dizer que isso surgiu somente agora. Ao determinar a pobreza como causa da violência, estamos dando um peso que ela não tem e facilitando a criminalização dos pobres, porque leva à conclusão de que são eles os criminosos. Isso justificaria o fato de termos 90% de pobres entre nossos prisioneiros, quando sabemos que há juízes, banqueiros, comerciantes, deputados, senadores e governantes envolvidos no mundo da atividade criminosa.

Folha - Mas a existência de um contingente grande de jovens pobres que convivem diariamente com a desigualdade não é um fator que facilita a entrada deles no tráfico de drogas?
Zaluar - Não estamos dizendo que a pobreza e a desigualdade não têm nada a ver com o problema. Há várias pesquisas que mostram que os Estados mais pobres do Brasil são também os menos violentos. Londrina é uma cidade riquíssima para os padrões brasileiros, mas é violenta. Campinas também. Nos Estados, percebe-se também que os municípios mais pobres são menos violentos. Uma parte da explicação dessa questão está no fato de as regiões metropolitanas atraírem mais imigrantes. Essa concentração de muita gente nessas regiões sem emprego e sem alternativa facilita a atração para as atividades do tráfico. Mas não são todos os que são atraídos, e é aí que está o mistério. Se a desigualdade explicasse a violência, todos os jovens pobres entrariam para o tráfico. Fizemos um levantamento na Cidade de Deus e concluímos que apenas 2% da população de lá está envolvida com o crime. Como explicar que a maioria das pessoas não se envolveu com o tráfico? Certamente tem algo a mais aí.

Folha - E o que seria esse algo a mais?
Zaluar - Parece-me o fato de que alguns se deixam seduzir por uma imagem da masculinidade que está associada ao uso da arma de fogo e à disposição de matar, ter dinheiro no bolso e se exibir para algumas mulheres. A partir de entrevistas que minha equipe fez com jovens traficantes, definimos isso como um etos da hipermasculinidade. Esse é um fenômeno que está sendo muito estudado nos EUA e na Europa e diz respeito a homens que têm alguma dificuldade de construir uma imagem positiva de si mesmos. Precisam da admiração ou do respeito por meio do medo imposto aos outros. Por isso se exibem com armas e demonstram crueldade diante do inimigo.


Folha - Como combater a construção dessa imagem?
Zaluar - É preciso fazer políticas públicas mais eficientes e focadas nos jovens que estão nessa fase difícil da adolescência, para que eles possam construir uma imagem civilizada de homem, que tenha orgulho de conter a sua violência e respeitar o adversário, competindo segundo as regras estabelecidas, como acontece nas competições esportivas e na disputa dos desfiles de escolas de samba. No último capítulo do meu novo livro, eu relato a experiência que tentei desenvolver em escolas públicas do Rio. Conseguimos ter resultados positivos ao desenvolver o projeto Mediadores da Paz, que tentava mostrar aos jovens a importância de negociar os conflitos por meio das palavras e como isso podia trazer para eles respeito próprio e das outras pessoas. Nesse projeto, incentivávamos jovens a mediar conflitos entre colegas.

Folha - A senhora faz duras críticas ao livro e ao filme "Cidade de Deus", mas eles não retratam bem essa questão da construção do etos da hipermasculinidade?
Zaluar - O Zé Pequeno [um dos principais personagens do filme] seria um exemplo dessa hipermasculinidade, mas, na minha opinião, o problema de "Cidade de Deus" é muito mais sério. Em primeiro lugar, o Paulo Lins fez o livro sem consultar as pessoas envolvidas. A pesquisa acadêmica é uma coisa séria. Eu emprestei a ele toda a pesquisa que fizemos na Cidade de Deus. Esse material tinha o depoimento do único sobrevivente da guerra [entre traficantes] retratada no filme, que é o Ailton Batata, que aparece no romance com o nome de Sandro Cenoura. Além disso, há uma série de impropriedades no romance. Nunca existiu, por exemplo, aquele bando de meninos ainda com dente de leite dando tiro nas pessoas. Isso é mentira, e é muito sério porque cria uma imagem sobre as crianças que vivem nesses locais que não é verdadeira. A própria história do Zé Pequeno é contada como se ele já tivesse nascido ruim. É uma volta à teoria do criminoso nato, que, do ponto de vista da criminologia, já está completamente superada.

Folha - Como a senhora vê a forma como a imprensa tem tratado a questão da violência urbana?
Zaluar - Estou menos preocupada hoje do que já estive. Já não vejo mais tantas fotos de traficantes e de matadores colocadas nas primeiras páginas dos jornais com destaque enorme. Isso dá fama a essas pessoas e é mais uma atração para os jovens em busca dessa fama. Os traficantes já são conhecidos pela sua dureza, mas, quando a foto deles aparece nos jornais, isso contribui mais ainda para essa fama. Infelizmente, os jornais ainda continuam dando nomes, o que contribui para a permanência do círculo vicioso de atração dos jovens.

Folha - A senhora é uma das especialistas mais procuradas pelos jornalistas para comentar casos de violência. Os jornais não acabam falando sempre com os mesmos especialistas?
Zaluar - Recentemente, fui procurada para comentar a rebelião em Benfica [que resultou na morte de 30 detentos e de um agente penitenciário na casa de custódia da zona norte do Rio, em maio]. Disse ao jornalista que não sabia nada sobre esse assunto e indiquei outros especialistas. Quase sempre aparecem as mesmas pessoas nos jornais. Em alguns casos, é gente que entende muito pouco do assunto e diz qualquer coisa só para aparecer. Isso acaba alimentando essa "Darlene" que existe dentro dos intelectuais. Tem que haver seriedade no tratamento dessa questão.




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